quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Marina

É o amor, a dor, a esperança e a resignação das personagens que dão força a este livro, como se cada personagem existisse e fosse saltar das páginas a qualquer momento. Este romance que ronda o fantástico e macabro é um inigualável tratado sobre a amizade. O livro que precede a "A Sombra do Vento", não ultrapassa o enredo desse mas a inocência dos sentimentos que os personagens criam ao longo da história torna-a não aborrecida mas saliente. O final apesar de ser um pouco previsível não é esperado, aumentando o encanto quando já nada se espera. Escrito numa prosa poética e irónica em que passado e presente se completam.

O escritor diz que é o melhor livro dele. E eu concordo.


"O meu amigo Óscar é um desse príncipes  sem reino que correm por aí esperando que os beijemos para se transformarem em sapo. Entende tudo ao contrário e por isso gosto tanto dele. As pessoas que pensem que entendem tudo à direita fazem as coisas à esquerda, e isso, vindo de uma canhota, diz tudo. Olha para mim e julga que não vejo. Imagina que me evaporarei se me tocar e que, se não o fizer, vai evaporar-se ele. Tem-me num pedestal tão alto que não sabe como subir até lá. Pensa que os meus lábios são a porta do Paraíso, mas não sabe que estão envenenados. Eu sou tão cobarde que, para não o perder, não lho digo. Finjo que não o vejo e que sim,  que me vou evaporar. 
O meu amigo Óscar é um desses príncipes que fariam bem em manter-se afastados das histórias e das princesas que os habitam. Não sabe que é um príncipe azul que tem de beijar a bela adormecida para que ela acorde do seu sono eterno, mas isso é porque o Óscar ignora que todas as histórias são mentiras, embora nem todas as mentiras sejam histórias. Os príncipes não são azuis e as adormecidas, mesmo sendo belas, nunca despertam do seu sono. É o melhor amigo que jamais tive e, se algum dia tropeçar com Merlin, agradecer-lhe-ei por o ter feito atravessar o meu caminho."
(Marina, de Carlos Ruiz Zafón)

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