terça-feira, 7 de setembro de 2010

viagem

Por isso se parte. Se foge. Se finge que se foge. Porque não se foge nada. Não se parte. Não se descobrem terras nem estranhos. Descobre-se cada um a si mesmo. Descobre-se a mão que se tinha nas mãos. O sentido que se traz dentro das mãos. Por isso não se parte realmente. Só se finge que se parte. E a viagem é a forma mais fácil de fingir. E assim foi ela para onde achava que devia ir porque o seu coração a guiava, e deve ter voltado para aquilo de que nunca partira. E assim fugi eu para onde achava que me podia perder porque perdera o meu coração e já não era possível voltar para o que de mim partira. Porque se partira.

(Carlos Quiroga, INXALÁ - Espero por ti na Abissínia)

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