quarta-feira, 28 de julho de 2010

Lewis Carrol

Minha criança tão pura e querida
Com os teus olhos voltados para o céu!
Embora o tempo seja breve, tu e eu
Apartados estejamos por meia vida.
Com o teu sorriso aceitarás certamente
Este conto de fadas de presente.

Nunca mais vi o teu olhar radiante.
Nem ouvi o teu riso cristalino
E sei que será teu destino
Esqueceres-te de mim doravante.
Basta-me agora que queiras receber
O conto de fadas que te venho oferecer.

Um conto de tempo que já lá vão,
Quando o brilhavam os dias de verão.
Um canto singelo para acompanhar
O ritmo do nosso remar
Cujos ecos perduram na lembrança,
Porquanto o olvido queira vingança.

Anda, escuta, antes que o pavor,
Com sua voz diabólica
Force ao sono opressor
Uma donzela melancólica!
Somos velhos que gostam de brincar
E temem a hora de ir deitar.


Lá fora, o gelo e a neve impiedosos,
E a raiva dos ventos furiosos,
Cá dentro, o fogo que nos olhos dança
E a felicidade de criança.
Que te livre, assim, este conto terno
Da dura prisão do Inverno.

E, ainda que brisas sombrias
Perpassem pela memória
Da saudade dos nossos dias,
Dos nossos tempos de glória,
Não hão-de trespassar de agonia
O prazer da nossa história.

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