domingo, 20 de junho de 2010

extremista

O vaticano diz que Saramago era extremista. Ele concordaria. O vaticano não pode estar calado. Tem de pontificar. Pontificar é, aliás, uma forma de nos fazermos ouvir e, nesse sentido, até se compreende. Não levo a mal. Pergunto-me quantas pessoas que se dizem católicas conhecem a Bíblia como Saramago a conhecia e, já agora, vou um pouco mais à frente (isto, talvez o Esccritor não ache graça lá onde se encontra): se Saramago era um homem que se interrogava sobre Deus, apostando sempre na humanização e tendo como temas centrais da sua obra o Bem e o Mal, até que ponto é que Deus lhe era indiferente? Quem se interroga acredita ou não acredita? Pouco importa agora. Saramago era extremista, escrevem no órgão oficial do vaticano. Pois seja. Saramago falou de outras religiões, do Alcorão, nomeadamente. Da comunidade muçulmano não se ouve uma palavra. Porque será? Há polémicas que só se compram se as queremos alimentar. Outras são do foro da literatura, da imaginação, da criatividade, da liberdade de expressão. Outras ainda são do âmbito dos téologos e filósofos. Sendo cristã, sei que o Vaticano tem feito mea culpa em muitos assuntos, já se sabe. Sendo cristã, gostaria que o Vaticano tivesse a elegância de perceber que morreu um homem que tinha as suas ideias e, consequentemente, respeitar isso de uma forma simples: pelo silêncio. Sendo cristã e amante da Literatura nunca entendi porque é que a minha fé se deveria sentir melindrada com as posições deste ou de outros escritores. Que eu saiba, Saramago nunca nos pediu para assinarmos uma petição concordando com as suas posições religiosas, políticas ou sociais. É um grande escritor. Não conseguir ver a qualidade de uma obra por amor a Deus é tão terrível e limitador quanto as pessoas que se matam em nome de um ideal que nos transcende. Deus não serve para isto e não deve estar muito preocupado com críticas literárias. Digo eu.
(Texto escrito por Patrícia Reis)

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