quarta-feira, 24 de março de 2010

O conto

Talvez alguém ande com a vida que me pertence e eu, afinal, tenha a de algum desgraçado que também ande por aí a procurar a vida que é minha mas não é minha por direito. Vê o rosto das pessoas que andam nas ruas, dentro dos carros, que bebem café e fumam ao teu lado. É como se sentissem que são aquilo onde estão. Distingo com facilidade, basta-me olhar os rostos, mesmo quando não estou num lugar que, supostamente, pertenço, se são donde estão ou se vieram apenas para ver e descobrir algo além da vida que lhes foi dada. É aí que começamos viver por conta própria, não é? Quando nos interrogamos e já ninguém nos segura e, pior, quem tem gosto pelas letras, então o caso é perturbador, sem remédio, condena qualquer um a malograr-se em qualquer memorial pela vida fora. Não me aches triste, tenho a esperança de não o ser assim tanto, mas para o confirmar tinha que estar por um dia noutra pele, ser outra ou outro, pouca diferença faz. Mas perdi-me hoje num conto que a Rosa Lobato Faria me contou em que havia duas mulheres, muito amigas, muito íntimas, em que uma era feia e intelectual, e a outra bonita e burra. Quiseram elas trocar os papéis; a bonita queria ser inteligente para saber quem se dela se aproxima era por bem ou por mal, e a feia queria ser cobiçada pelos homens, sentir-se bonita. A bonita desiste da ideia porque não queria dar-se aos devaneios da inteligência que tinha acompanhado na amiga e o conto, para mim, acabou ali. 
 
Sem esquecer que a feia a persuadiu do contrário.

3 comentários:

  1. Essa é uma ideia sem pés nem cabeça, não há ninguém que se possa colocar nos extremos.
    A ideia de belo ou qualquer outra coisa, existe em termos de comparação.
    Por exemplo, se eu estiver ao lado de uma anorética sou gorda, mas se tiver ao lado de quem pese 120 Kg, sou uma "lasca boazona" ;-D

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  2. Pensei nisso muito tempo quando li, mas tu pensaste melhor que eu.

    Bjuca

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