terça-feira, 26 de janeiro de 2010

É cansaço, sobretudo

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

(Álvaro de Campos)

5 comentários:

  1. este poema nunca me caiu tao bem..o que ha em mim ultimamente é memso isso..sobretudo cansaço.. =) adoro o "nandinho" =D

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  2. Lana, não consegui aceitar o teu convite. :( Se puderes manda-me outra vez. Bjinhus e um bom final de semana!

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  3. Começar o dia com Álvaro de Campos é tudo de bom. Linda poesia.
    FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... apriveita para desejar um bom dia.
    Beijo grande.
    Saudações Florestais !

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